VIVER A GRAÇA

Convém, agora, conhecer melhor o dom admirável da graça divina que nos elevou acima de nossa natureza e nos fez participantes da natureza do próprio Deus, colocando-nos na ordem sobrenatural e divina, segundo a qual somos chamados a agir com nosso espírito. É necessário pensar quão grave perda é descer, ainda que pouco, nesta ordem sublime e retornar ao nosso modo natural de pensar e agir.

As virtudes teologais, isto é, divinas, pertencem exatamente a tal ordem e, como tais, orientam-se para Deus, a fim de melhor conhecê-lo (com a Fé), para apoiar-se nEle (com a Esperança), para aderir a Ele (com a Caridade). Quanto menos pensarmos, apoiarmo-nos e nos detivermos nas criaturas mais aquelas virtudes se fortalecerão e se desenvolverão. Daqui deriva a necessidade de uma diligência compromissada e zelosa para conservar e fazer crescer as virtudes teologais, porque é dom excelso e sobrenatural de Deus, mediante as quais podemos ter comunicação íntima e familiar com sua Divina Majestade.

Admirável, pois, é a piedade e a bondade do Senhor, que, ao perceber que nós, por humana fraqueza, começamos a vacilar quando estamos nas alturas e corremos perigo de voltar à humana baixeza, estende sua mão, qual mãe amorosa amparando seus filhos (Sl 37, 24), a fim de que não soframos mal algum. Ele, com doçura e, ao mesmo tempo, com energia, torna a nos elevar.

Exclamemos, portanto, com o salmista: “quanto a mim, minha felicidade é estar perto de Deus. Ponho no Senhor o meu refúgio” (Sl 73, 28).

Epistolário, p. 35s: carta de 11.12.1812. É uma das primeiras cartas escritas por Pe. Gaspar à Leopoldina Naudet (1773-1834), fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família. A correspondência entre Pe. Gaspar e a Serva de Deus aconteceu de 1812 a 1834.


 


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