NOSSO CORAÇÃO TEMPLO DE DEUS

Deus quer consagrar nosso coração tornando-o templo, onde Ele mesmo habite. São Paulo diz: “acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós” (1Cor 3,16s). De fato, embora possamos dizer que Deus está em todo o lugar, por causa de sua imensidade, todavia, Ele habita, de modo especial, nos corações dos justos, aos quais comunica não só a graça com todos os dons, mas o próprio Espírito, autor da graça e do dom.

Cada alma, portanto, que Deus escolheu para si, como ameno e delicioso templo ou palácio, fê-lo para poder nele residir e deliciar-se, “alegrando- se em estar com os filhos dos homens” (Pr 8,31). Quer conversar com eles no mais íntimo do coração. Por isso, Ele nos chama com um convite suave: vinde, libertai-vos de todas as preocupações e despojai-vos das afeições mundanas. Provareis quão bom e suave é o Senhor, o vosso Deus.

Que alma bendita é essa! Pode, então, afirmar tendo encontrado seu amor dentro do próprio coração: “o meu amado é todo meu e eu sou dele” (Ct 2,16); “segurei-o e não o soltarei” (Ct 3,4). Que paz e que serenidade deve ter essa alma! São Paulo já o havia previsto, quando afirmou que todos os justos possuiriam uma grande paz (Rm 5,1). Não só se alegra no tempo presente, mas antecipa o gozo futuro, pois, como prossegue o mesmo Apóstolo, “nos gloriamos, na esperança da glória de Deus” (Ct 5,2)1.

1 Pregações à juventude, n. 8: nosso coração feito templo de Deus, MS 576-579; PVC, p. 302-304. Esta pregação foi feita no dia 13.12.1801, domingo, por ocasião da celebração da transladação da S. Casa de Loreto, cuja festa era fixada, então, pela liturgia, a 10 de dezembro. Na verdade, o título completo da pregação é: “A S. Casa transportada para nosso coração, ou seja, nosso coração transformado em templo de Deus”. São dignos de menção os termos sugestivos com que o jovem Pe. Gaspar introduz o discurso sobre a divina habitação: “Se é verdade que nossas aptidões vêm de Deus, e que, por nós mesmos, somos incapazes de produzir um só pensamento bom, eu não sei, então, a que atribuir a origem de um santo pensamento, que se formou em minha mente e depois permaneceu com muita persistência, para poder comunicá-lo neste dia a todo este devoto auditório” (MS 575). Convém relembrar que o mistério da habitação divina na alma do justo é um dos grandes alicerces da espiritualidade bertoniana (Bertoni, 2, p. 122).

 


Protected by Copyscape